(Este post não é sobre sexo)
Pois bem, queridos leitores. Minha alegria durou pouco. Pouquíssimo.
Digo isso porque ontem fui ao Ministério do Trabalho, na hora do almoço, para buscar minha carteira de trabalho, devidamente registrada com minha profissão: jornalista. Naquele momento, me tornei jornalista profissional, com ensino superior e apto a atuar.
No entanto...
...no final da tarde, os ministros do Supremo Tribunal Federal decidiram, por oito votos a um, que o diploma de jornalista não é mais obrigatório para exercer a profissão. Ou seja, minha alegria durou mais ou menos umas quatro horas. Resumindo, estudei quatro anos para exercer uma profissão na qual eu não precisaria nem estudar!
Sacanagem!
Agora, vou colocar abaixo os argumentos de alguns dos ministros que votaram contra a obrigatoriedade do diploma, além do argumento de uma representante do Sindicato das Empresas de Rádio e Televisão no Estado de São Paulo (Setersp).
Ministro Gilmar Mendes (relator): Danos a terceiros não são inerentes à profissão de jornalista e não poderiam ser evitados com um diploma. Notícias inverídicas são grave desvio da conduta e problemas éticos que não encontram solução na formação em curso superior do profissional. E O MAIS IMPRESSIONANTES, INADMISSÍVEL E INCONCEBÍVEL: A formação em jornalismo é importante para o preparo técnico dos profissionais e deve continuar nos moldes de cursos como o de culinária, moda ou costura, nos quais o diploma não é requisito básico para o exercício da profissão.
Então, o curso de jornalismo é como o de moda, costura e culinária!
Ministro Carlos Ayres Britto: O jornalismo pode ser exercido pelos que optam por se profissionalizar na carreira ou por aqueles que apenas têm "intimidade com a palavra" ou "olho clínico".
Entendi. Amanhã mesmo vou ali na minha vizinha. Ela é vendedora na feira e tem intimidade com a palavra. A gente consegue um patrocinador e monta um jornal. É claro, a jornalista será ela e eu, como tenho apenas um curso superior em jornalismo, mas não tenho muita intimidade com a palavra, vou, sei lá, limpar o chão.
Ministro Celso de Mello: Preservar a comunicação de ideias é fundamental para uma sociedade democrática e restrições, ainda que por meios indiretos, como a obrigatoriedade do diploma, devem ser combatidas.
Então, todos os diplomas são uma afronta para a "preservação da comunicação de ideias para uma sociedade democrática". Já sei, agora eu quero ser advogado. Lógico, andei estudando o código penal e sei muito bem defender um réu ou enfrentar um juri, sei lá. Ora, é meu direito como cidadão. Quando eu enjoar de ser advogado, acho que quero ser arquiteto, depois, médico ou professor e.
Tais Gasparian, representante da Sertesp: A profissão de jornalista é desprovida de qualificações técnicas, sendo "puramente uma atividade intelectual". Ela questionou qual o consumidor de notícias que não gostaria de receber informações médicas, por exemplo, de um profissional formado na área e não de um com formação em comunicação.
Eu quero ver essa Tais escrever um lead, organizar informações, fazê-las entender. Eu quero ver um médico fazer isso. Quero ver qualquer outro profissional fazer isso. Me dê uma bula de remédio que eu a faço ficar interessante de ler. Peça a um médico para escrever uma simples frase e você não entende nada.
Antônio Fernando de Souza, Procurador-geral da República: o curso superior de jornalismo age como obstáculo à livre expressão estabelecida na Constituição e o diploma fecha a porta para outros profissionais transmitirem livremente seu conhecimento através do jornalismo.
Se o diploma fecha a porta para outros profissionais transmitirem livremente seu conhecimento através do jornalismo, então o diploma de advogado impede o meu livre direito de defender uma causa. O diploma de professor me impede do meu livre direito de ensinar. O diploma de médico me impede do meu livre direito de curar.
Se alguém quer transmitir conhecimento, use um blog, a internet, escreve um livro. Não é apenas através jornalismo que as pessoas podem se expressar. A Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) defende que, não é tirando a obrigatoriedade do diploma que o cidadão terá livre acesso às emissoras de TV, rádio e internet, ou então, nas "cartas do leitor". Ou ainda, de verem suas respostas publicadas contra acusações estrondosas manchetadas na primeira página do jornal.
O ministro diz que os erros são graves desvios de conduta. Mas será que erros só acontecem no jornalismo? Se erros forem levados em conta, todas as profissões não precisariam de diploma. Não há erros médicos? Quanta gente já morreu por erros médicos! A falta de técnica no jornalismo permitiria muito mais erros. E muito mais graves.
Se não há diploma, se todo mundo que tem "intimidade com a palavra" for jornalista, tudo o que é escrito em blogs teriam de ser levados em conta. Não se sabe se é verdade ou mentira, mas o blogueiro tem intimidade com a palavra, como vamos duvidar? Ele é jornalista! Olha a que ponto de desvalorização chegou a minha profissão.
Eu, tu, ele, nós, vós, eles: todos, jornalistas somos. Talvez eu, não, porque não tenho tanta intimidade com a palavra como minha vizinha vendedora de hortaliças na feira. Talvez, eu tenha que me jogar em outros campos do conhecimento que também não exigem diploma, como a culinária, moda, ou costura.
Logo agora, que eu acabei de me formar.
Logo agora, que eu acabei de pegar o meu registro profissional.
2 comentários:
Danilo, essa história começou há anos. À época, eu ainda fazia Jornal: uma juíza propôs a ideia.
Ficamos revoltados e preocupados, ouvindo falar de gente que se denomina "jornalista de registro", porque não tem diploma e trabalha produzindo conteúdo, assim mesmo.
Achei que esta loucura morreria com o tempo e o bom senso do trabalhador brasileiro, dos representantes do povo.
... Enfim, só ficou comprovado que, no Congresso, os taizinhos realmente não têm muito o que fazer, já que ficam brincando de homens-track por aí.
Infelizmente, sobra sempre para o trabalhador.
Ficou comprovado que nove juízes ficam lá sem nada pra fazer e votando sobre que coisas que eles mesmo não fazem ideia do que seja. Os argumentos deles são de dar nojo.
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