terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Nota de falecimento

Não vou colocar foto. Não vou escrever um longo texto. Não vou ficar escrevendo aqui o que já foi tanto falado, o que já foi tanto discutido em tantas mesas redondas de tantas emissoras de televisão e rádio. Não vou. Não precisa.

Gostaria apenas de prestar minha solidariedade e meus sinceros pesares em relação ao falecimento de Rogério "Não Sabe Perder" Ceni. Porque ser humilhado duas vezes em um mesmo jogo, como mandante, contra um arquirival, por um moleque com um terço de sua idade, e por outro que já havia lhe causado tantas outras tristeza e que ainda povoava seus pesadelos todas as noites, realmente não é fácil.

Em épocas de tanta alegria, verão, carnaval, este glorioso senhor não merecia passar por isso. Primeiro naquele penalti que nem foi, afinal, não é futebol americano? Depois, naquela paradinha tão covarde. Tanto esforço para dar aquele salto, afinal, ele não poderia relaxar contra o arquirival. Superou as artrites, artroses, osteoporoses, miopias, tromboses, calvices e andropausas para, num esforço sobrehumano, dar aquele salto para pegar a pelota.

Mas aquele covarde parou. Mesmo meia hora parado ali, caído, Ceni não consegui voltar. O moleque parou, riu, tomou leite com chocolate, soltou pião e papagaio, chupou picolé, brincou de pique esconde e fez mágicas no baralho antes de bater o penalti, que passou devagarinho ao lado do pé esquerdo necrosado do velhinho, que não pode fazer absolutamente nada, a não ser pedir ajuda para se levantar.

Este ano, ele não vai pular carnaval, pulou muito antes.

No segundo tempo, a humilhação dobrou quando o senhor de palavras tão bem cauculadas quanto impensadas viu o outro menino. Mais experiente e forte. Ficou desesperado. Tanto que nem os aparelhos que o mantinham vivo conseguiram suportar. O moleque pegou tão rápida a bola, de letra, que nem se o velho goleiro estivesse em ótima fase como na época do Brasil colônia, ele conseguiria pegar. A bola bateu lá no fundo e derrubou o balão de oxigênio que estava pendurado na trave. Foi o fim para ele.

Tentaram a reanimação, mas a outra equipe tinha armas muito melhores e mais bem preparadas. Restou ao São Paulo desligar os aparelhos e esperar pelo fatídico fim. Mas era de se esperar porque um santo só não pode vencer todos os santos. Ainda mais com anjos que pedalam, voam e bailam em campo. Foi covardia.

Meus pêsames aos são-paulinos e ao senhor Rogério "Não Sabe Perder" Ceni.

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