sábado, 27 de março de 2010

E o espetáculo chegou ao fim... ahhhh

Um show. Realmente um espetáculo sem precedentes.

Assim eu resumo o julgamento do casal Nardoni, que terminou ontem. Tenho certeza de que, quem foi só no show da Beyoncè, ou na final da Libertadores da América, ou na visita do Papa, terá inveja mortal e infinita de quem participou no show do julgamento.

A imprensa fez festa. De minuto em minuto o SBT, a Globo, a Record, o UOL, Terra, Jovem Pan, aparecia com um repórter ao vivo mostrando ou falando sobre a movimentação. Não havia nem mais o que falar. As informações se repetiam. Ao fundo, as pessoas gritavam.

Para começar, desde março de 2008 o casal já estava condenado pela imprensa. O promotor Francisco Cembranelli já afirmava com todas as letras aos veículos de comunicação a culpa de Alexandre e Ana Jatobá. E os jornais aceitavam.

Agora, com a condenação do casal, Cembranelli sai do fórum como um herói. A imprensa também sai vitoriosa, afinal foi uma causa defendida pelos dois.

Mas, confesso, estava torcendo bastante para que a defesa achasse uma prova de que os Nardoni eram inocentes. Assim, colocava uma fita crepe na boca de quem condena antes do julgamento. Atitudes que podem terem influenciado até mesmo os jurados, que, em tese, são neutros. Como assim, neutros, se eles já sabiam do caso e viam o noticiário há dois anos?

Pelo fato de promotor e imprensa terem condenado antes, a população também foi influenciada e acabou fazendo aquela tremenda baixaria na porta do tribunal. Um resolveu fazer homenagens apelativas e pedir pena de morte. Os outros pediam linchamento. Li no UOL que um menino de 10 anos gritava “Vamos arrancar o pescoço desse desgraçado!”

A população pode estar cansada de atos de injustiça, mas esta mentalidade não leva à justiça. Eu ficava realmente chocado quando via na TV as manifestações da galera do lado de fora. Quem faz linchamento se torna igual à pessoa que está sendo linchada. Ou pior. Quem quer pena de morte não sabe o efeito que isso traz.

Centenas de crianças morrem em situações piores do que a da Isabela. Nos morros, nas favelas, nos subúrbios. Morrem de fome. Mas ninguém faz manifestação contra as prefeituras que não repassam o dinheiro corretamente. Ninguém faz manifestações quando os vereadores aprovam o aumento dos próprios salários. Ninguém faz manifestação quando os congressistam elaboram leis em causa própria. Será que isso não é uma forma de assassinar pessoas inocentes pelo Brasil afora?

Cada vez que um deputado falta na sessão de votação de um projeto de lei, uma criança morre de fome aí perto de você, que está lendo isso. Pode pesquisar, pertinho de você tem gente aí morrendo com bala perdida, tem criança traficando. Mas a população só fica indignada quando a violência chega à classe média, como foi esse caso. Como foi o caso do João Hélio.

Ontem, no jornal no SBT, a notícia que passou antes do caso do julgamento, foi uma menina de 17 anos morta com tiros a queima roupa. Se fosse nos Jardins, todo mundo ia lá fazer manifestação. Mas como foi numa favela de São Paulo, vai ficar por isso mesmo.

Podem escrever, porque está nas cartas do Tarô: daqui a 30 anos, quando saírem da cadeia, Alexandre Nardoni e Ana Carolina Jatobá, terão saldado a dívida com a justiça, mas a sociedade verá eternamente os dois como os "malvados pai e madrasta que assassinaram a pobre Isabela".

O casal Nardoni foi condenado sim. Fez-se justiça. Foi provado que eram culpados. Mas Alexandre e Ana Carolina entraram neste juri só para saber a pena. Porque já estavam condenados há muito tempo.

2 comentários:

Thay Gomez disse...

Adorei este post, Dan.
Mas eu faria apenas uma observação: "Daqui a uns 15 anos, quando os dois saírem da cadeia..."

A gente mora no Brasil, lembra?
Bjo

Danilo disse...

Opa, essa eu esqueci mesmo... rsrsrsrs É verdade. Dizem que eles têm até direito a outro julgamento.

Bjos