domingo, 17 de janeiro de 2010

O discurso de Zilda Arns

Há pouco mais de um ano tive o grande prazer de entrevistar Zilda Arns, fundadora da Pastoral da Criança, em Florestópolis, na festa dos 25 anos da pastoral. A coisa mais incrível que eu vi naquele final de setembro de 2008 é o amor que aquele povo tinha por aquela mulher de sorriso tão fácil e tão atenciosa.

Apesar de minha mãe ser voluntária da Pastoral da Criança há mais de 20 anos aqui em Jataizinho, ainda não tinha a exata dimensão do quanto isso era importante.

Hoje, com certeza, Zilda Arns já está com Deus. Sem dúvida, dando uma mão pra ele, porque sei que o trabalho dela terminou só aqui na Terra. Lá de cima, ela ainda tem muito serviço. Claro, com uma visão bem mais ampla, no sentido mais literal da palavra. O trabalho continua, como ela mesma deixou explícito em seu último discurso, no Haiti.

Leia alguns trechos.

(Para quem quiser ler as reportagens e entrevistas feitas por mim e pelo meu amigo Paulo Eleutério* para o Webjornal ComTexto, sobre a Pastoral da Criançs, pode clicar aqui, aqui e aqui)

"A construção da paz começa no coração das pessoas e tem seu fundamento no amor, que tem suas raízes na gestação e na primeira infância, e se transforma em fraternidade e responsabilidade social. A paz é uma conquista coletiva. Tem lugar quando encorajamos as pessoas, quando promovemos os valores culturais e éticos, as atitudes e práticas da busca do bem comum.

Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos" significa trabalhar pela inclusão social, fruto da Justiça; significa não ter preconceitos, aplicar nossos melhores talentos em favor da vida plena, prioritariamente daqueles que mais necessitam. Somar esforços para alcançar os objetivos, servir com humildade e misericórdia, sem perder a própria identidade. Todo esse caminho necessita de comunicação constante para iluminar, animar, fortalecer e democratizar nossa missão de fé e vida.

Cremos que esta transformação social exige um investimento máximo de esforços para o desenvolvimento integral das crianças. Este desenvolvimento começa quanto a criança se encontra ainda no ventre sagrado da sua mãe. As crianças, quando estão bem cuidadas, são sementes de paz e esperança. NÃO EXISTE SER HUMANO MAIS PERFEITO, MAIS JUSTO, MAIS SOLIDÁRIO E SEM PRECONCEITOS QUE AS CRIANÇAS.

Os resultados do trabalho voluntário, com a mística do amor a Deus e ao próximo, em linha com nossa mãe terra, que a todos deve alimentar, nossos irmãos, os frutos e as flores, nossos rios, lagos, mares, florestas e animais. Tudo isso nos mostra como a sociedade organizada pode ser protagonista de sua transformação. Neste espírito, ao fortalecer os laços que ligam a comunidade, podemos encontrar as soluções para os graves problemas sociais que afetam as famílias pobres.

Como os pássaros, que cuidam de seus filhos ao fazer um ninho no alto das árvores e nas montanhas, longe de predadores, ameaças e perigos, e mais perto de Deus, deveríamos cuidar de nossos filhos como um bem sagrado, promover o respeito a seus direitos e protegê-los."


*Paulo Eleutério acabou de se formar em Jornalismo. O trabalho de conclusão dele, apresentado no último mês de novembro, foi exatamente sobre o trabalho da Pastoral da Criança em Londrina. E uma das entrevistas foi justamente com Zilda Arns.

2 comentários:

Thay Gomez disse...

Dona Zilda realmente tinha uma expressão tranquilizante =.)

Durante um trabalho, visitei a sede da Pastoral em João Pessoa (e sei que devem haver prédios maiores por aí, mas não isto não conteve minha surpresa): ao passar pela porta você fica impressionado com o tamanho da estrutura do lugar, bem disfarçado pela fachada, que engana os olhos.

Acho que é uma metáfora sobre a imensidão dos pequeninos que habitam aquele lugar =D

Thay Gomez disse...

Sabe o que mais me marcava nela? É que realmente parecia... de verdade!

Digo, convivo com uma porção de gente que fala no amor ao próximo, no que se tira da Bíblia, vão à Igreja todos os domingos... e estão brigando com os irmãos assim que chegam em casa ou negando esmolas - podendo ajudar.

Ela, ao que parece, realmente se importava.