sábado, 6 de dezembro de 2008

Anasor e um dia triste

Nos tempos de ginásio, o pessoal da sala e eu inventamos uma brincadeira de chamar os pessoal pelo nome ao contrário. Olinad, Erdnaxela, Enila, Onurb, Xela, Airíuqlav, Oinotna, Onairda, Ofloda, Ovatsug. Tinha uma professora de Matemática, a Nobuco, que a gente chamava de Ocubon, mas ela não gostava. Até hoje eu não sei o porquê.

Mas tinha um nome que a gente dizia que parecia nome de remédio. Era o da Rosana. Ao contrário, Anasor. Mas ela não ligava. Assim, sempre eu acabo me lembrando dos nomes e também da Rosana.

Aliás, a Rosana estudou comigo desde a 1ª série. Era minha companheira de sala de aula. Na primeira série, fomos convocados a dançar quadrilha na festa junina da cidade. Ela foi o meu primeiro par. Me deu segurança. A Rosana foi também meu segundo par, na 2ª série. Assim como na 3ª série e na 4ª série também.

Nos quatro anos ela usou um chapeuzinho de caipira com umas rendinhas azuis na aba, que tinha umas tranças negras bem longas. As fotos e vídeos não deixam mentir. Quando olho, sinto um certo ar de mico. Mas depois, até gosto e me divirto.

Foi na Rosana que eu dei meu primeiro selinho. E se selinho conta, então, foi na Rosana que eu dei meu primeiro beijo. As meninas tratavam um tal de "selinho" e, se eu não me engano, quando uma menina via a outra com o dedo descruzado, gritava "selinho!". Daí, a menina tinha que pagar uma prenda, que era dar um beijo em algum menino escolhido pela outra.

Uma vez, pegaram a Rosana com o dedo descruzado e a mandaram dar um selinho em mim. Fiquei apavorado. Tinha uns 12 anos, mas nunca havia chegado a menos de meio metro de menina alguma. No final da aula, todos os alunos saíram. Lembro que, além da Rosana e eu, ficaram na sala mais algumas amigas dela e mais uns curiosos. Forçaram, me empurraram, a empurraram e foi. Meu primeiro selinho. Saí correndo, sem olhar pra trás, morrendo de vergonha. Como eu era tonto.

E foi mais ou menos nessa época que a brincadeira dos nomes ao contrário começou. Assim, me tornei Olinad e a Rosana se tornou Anasor.

Eu estava presente também na van da faculdade, no dia em que ela chegou anunciando que havia ganhado uma bolsa de estudos, por meio do Prouni. Ela já havia pagado alguns meses de mensalidade e a partir daquela data, não precisaria mais pagar. Anasor era de família muito humilde e morava com a mãe, que trabalha de varredora de rua.

Anasor trabalhava em Ibiporã e ia todos os dias ao trabalho com a motocicleta que havia comprado há cerca de um ano. Porém ontem, dia 5, na rodovia entre Jataizinho e Ibiporã, indo trabalhar como fazia todos os dias, ao tentar ultrapassar um caminhão, não conseguiu. Foi inevitável. Ninguém sabe como foi. Ninguém viu direito como foi. Mas foi fatal.

Assim, rápido, sem avisar, sem imaginar, como a morte sempre é.

Ontem à noite, no velório, ainda não tinha caído a ficha, assim como ainda não caiu agora, ao escrever estas linhas. Preferi não vê-la no caixão. Preferi deixar gravado na minha memória a imagem dela como eu conheci. Preferi não presenciar o enterro. Preferi não tentar consolar a mãe, nem o irmão, inconsoláveis. Assim como amigos e parentes.

A única coisa da qual passo a ter certeza é de que a vida é muito curta e que a morte é apenas uma passagem para outra vida, junto de Deus. A Rosana passou para esta outra vida. Tudo o que viveu foi intenso. Todas as amizades, sinceras. Por isso é que não estou me derramando em lágrimas, porque eu sei que a morte não é algo definitivo, mas passageiro.

A morte não é um "adeus", mas um "até logo".

Por isso é que eu digo: Vá com Deus amiga. Que Deus reserve um bom lugar para você junto dele. Olhe por nós, que estaremos rezando pelo seu descanso eterno.

Até logo, Anasor.

3 comentários:

Lorena disse...

Danilo, isso é lindo. Lindo e triste. E você conseguiu passar io que realmente sentia.

Quarta-feira irei para Curitiba e na quinta vou fazer a cirurgia. Reze por mim.

Beijos

Maiury disse...

Ai q aperto no coração...

Alexandre disse...

Sem contar nos micos q fizemos a Anasor pagar!! Tem umas fotos super legais desse tempo no orkut da Dry...
Mas enfim, Dan... Fomos no velório juntos e eu quis vê-la. Antes não tivesse visto, que lástima.
Fica a saudade da Anasor... a beijoqueira, daí!