terça-feira, 17 de junho de 2008

Está na Folha de Londrina de domingo

Visita real exige atenção ao protocolo
Chegada do príncipe japonês ao Brasil já causou pelo menos uma gafe: a escolha errada das flores em São Paulo

VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO

São Paulo - Não o aponte, não o toque, não o cumprimente nem lhe estenda as mãos. Não olhe nos olhos, não tire fotos dele em movimento (só em pose de estátua), não o siga, não atravesse, não ultrapasse e nem recue na frente dele.

No centenário da imigração japonesa no Brasil, o príncipe Naruhito, 48 anos, primeiro na linha sucessória do trono do Japão, vem ao Brasil nesta semana cercado de regras de etiqueta, protocolo e cerimonial para lá de rígidas.

Antes mesmo de chegar, a visita do príncipe já causou gafes por aqui. O cerimonial do governo do Estado de São Paulo, que prepara um jantar com toda a pompa oferecido pelo governador José Serra (PSDB) no Palácio dos Bandeirantes, planejou, como de costume no Japão, colocar na lapela dos convidados alguma flor, cujo tamanho varia de acordo com a importância do visitante.

Foi pensada uma camélia, que também adornaria o uniforme da equipe de cerimonial. Mas a flor é símbolo de má sorte no Japão. A solução foi encomendar algumas flores de cerejeira, símbolo nipônico.

‘‘Não queria falar, mas a camélia significa, para os japoneses, cortar o pescoço, a morte’’, explica a professora japonesa Lumi Toyoda, contratada para assessorar o cerimonial paulista.

A principal lição de Toyoda ao cerimonial brasileiro é em relação à pontualidade. Atrasos são vistos no Japão como ‘‘falha de caráter’’ e uma das ‘‘piores faltas de educação’’. ‘‘Se combinar com um japonês às 10 horas, dez minutos antes ele já está esperando’’, diz a consultora, que já morou no Japão e é fluente na língua.

O cumprimento ocidental, o aperto de mãos (ou o beijo no rosto), e olhar diretamente nos olhos seria outra indelicadeza com o príncipe. A explicação está na tradição secular japonesa: não se pode dirigir nada (nem o olhar, nem as mãos, nem a palavra) a alguém de grau superior. ‘‘A maioria dos japoneses não sabe nem apertar a mão. Se alguém esticar a mão, eles não sabem o que fazer’’, diz Toyoda.

A consultora Cláudia Matarazzo, responsável pelo cerimonial do Palácio dos Bandeirantes, teve de reforçar as aulas de alongamento e preparar os assessores de Serra. O protocolo japonês exige que se curve até mais de 90 graus para cumprimentar o herdeiro. Só o governador, por também ser autoridade e ter ‘‘grau superior’’, não precisa cumprir a regra.

No Brasil entre os dias 17 e 25, o príncipe visitará Brasília, São Paulo, Santos, Rio, Belo Horizonte, Londrina, Rolândia e Maringá. A primeira visita de Naruhito ao Brasil foi em 1982.

O príncipe Naruhito, herdeiro do trono do Japão, monarquia hereditária mais antiga do mundo, chega nesta semana ao Brasil cercado de regras.

O QUE NÃO PODE

- Atravessar na frente do príncipe
- Ultrapassar o príncipe
- Recuar na frente do príncipe
- Seguir o príncipe
- Filmar ou fotografar o príncipe em movimento
- Gravar conversas do príncipe aproximando o microfone
- Entrevistar o príncipe
- Encarar ou olhar no olho do príncipe
- Tocar o príncipe, cumprimentá-lo ou estender-lhe a mão
- Apontar o príncipe

ALONGAMENTO
O protocolo japonês exige que se curve até mais de 90 graus, quase encostando a testa no joelho, para cumprimentar o herdeiro

MESA
As mesas para os jantares servidos ao príncipe precisam ter dois metros de largura

OBS: Vê se pode?

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