quinta-feira, 17 de abril de 2008

Derrubar o café... pecado mortal

Outro dia escrevi um artigo no qual criticava a cobertura da imprensa no caso Isabella, a menina que foi jogada do prédio e morreu. No artigo disse que a imprensa está sendo imparcial e está condenando o casal. Ou melhor, está fazendo com que os telespectadores tenham certeza de que o pai e madrasta são culpados. Dei vários exemplos de "escorregões" da imprensa.

("escorregões" talvez não seja a palavra mais correta, já que "escorregão" dá a impressão de que foi sem querer, mas neste caso, a imprensa parece estar fazendo de propósito)

Eu escrevi assim: "Sempre que há um crime bárbaro, principalmente contra crianças, a sociedade fica comovida e com raiva. Por isso, as pessoas precisam culpar alguém, precisam achar alguém que arque com as conseqüências. E acham isso na imprensa. É através dela - e não deveria ser - que a sociedade julga."

Enfim, hoje aconteceu algo que me provou a teoria de que a imprensa arranja alguém para condenar para sanar essa necessidade das pessoas.

Eu estava no fim do meu expediente, umas 18h. Geralmente, eu janto para depois ir para a faculdade. Na mesinha em que eu estava comendo, havia também uma garrafa térmica e um copinho cheio de café em cima de uma bandeja, que alguém havia deixado por ali.

Sem querer, esbarrei no copinho de café, que derramou na bandeja. Demorou um pouco, chegou a senhora da cozinha para pegar a bandeja. Ela olhou a sujeira e me disse assim: "Olha só o que VOCÊ fez!". Eu olhei para ela e disse: "É, o meu erro está acobertando outro, né? Quem deixou o copinho aí também tem culpa". Ela disse assim: "Claro, mas você é que está mais perto. Alguém tem que levar a culpa."

Eu olhei para ela e falei , em tom de brincadeira: "É, tia, tenho certeza que você acha que foi o pai e a madrasta que mataram a Isabella, né?". Ela respondeu: "Eu tô com esse cara entalado na garganta!".

Ela me culpou sem saber se havia sido minha mesmo a culpa. Se ela está com tanta raiva do Alexandre, deve estar com raiva de mim também. Eu devo estar entalado na garganta dela. Nunca mais passo perto da cozinha.

Que medo!

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