Outro dia escrevi um artigo no qual criticava a cobertura da imprensa no caso Isabella, a menina que foi jogada do prédio e morreu. No artigo disse que a imprensa está sendo imparcial e está condenando o casal. Ou melhor, está fazendo com que os telespectadores tenham certeza de que o pai e madrasta são culpados. Dei vários exemplos de "escorregões" da imprensa.
("escorregões" talvez não seja a palavra mais correta, já que "escorregão" dá a impressão de que foi sem querer, mas neste caso, a imprensa parece estar fazendo de propósito)
Eu escrevi assim: "Sempre que há um crime bárbaro, principalmente contra crianças, a sociedade fica comovida e com raiva. Por isso, as pessoas precisam culpar alguém, precisam achar alguém que arque com as conseqüências. E acham isso na imprensa. É através dela - e não deveria ser - que a sociedade julga."
Enfim, hoje aconteceu algo que me provou a teoria de que a imprensa arranja alguém para condenar para sanar essa necessidade das pessoas.
Eu estava no fim do meu expediente, umas 18h. Geralmente, eu janto para depois ir para a faculdade. Na mesinha em que eu estava comendo, havia também uma garrafa térmica e um copinho cheio de café em cima de uma bandeja, que alguém havia deixado por ali.
Sem querer, esbarrei no copinho de café, que derramou na bandeja. Demorou um pouco, chegou a senhora da cozinha para pegar a bandeja. Ela olhou a sujeira e me disse assim: "Olha só o que VOCÊ fez!". Eu olhei para ela e disse: "É, o meu erro está acobertando outro, né? Quem deixou o copinho aí também tem culpa". Ela disse assim: "Claro, mas você é que está mais perto. Alguém tem que levar a culpa."
Eu olhei para ela e falei , em tom de brincadeira: "É, tia, tenho certeza que você acha que foi o pai e a madrasta que mataram a Isabella, né?". Ela respondeu: "Eu tô com esse cara entalado na garganta!".
Ela me culpou sem saber se havia sido minha mesmo a culpa. Se ela está com tanta raiva do Alexandre, deve estar com raiva de mim também. Eu devo estar entalado na garganta dela. Nunca mais passo perto da cozinha.
Que medo!
Nenhum comentário:
Postar um comentário