Me lembro como se fosse hoje o dia em que ele se foi. Minha mãe acordou meu irmão e eu naquela madrugada quente de 13 de janeiro de 2005.
"Dan, o vô morreu".
Na hora, minha expressão de "cara de ônibus". Sabe aquelas, "han?". Confesso que não fiquei tão impressionado, afinal, a morte é algo inevitável. E, no caso do meu avô, que já estava na UTI há mais de uma semana, isso era algo que, querendo ou não (e como é difícil confessar isso), já esperávamos.
Ele já estava há vários anos na cadeira de rodas depois de um derrame. No começo, ele conseguia andar. Devagar, mas conseguia. Eu me lembro de o acompanhar quando saía de casa. Não aceitava de jeito nenhum a doença, que por sinal, foi piorando, até que não podia, sequer, andar.
Mas antes disso, confesso que meu avô era o cara mais esperto e disposto que conheci. No bom e no mal sentido. Mas, no mal sentido, nem compensa falar, afinal, tudo o que esse homem fez de bom compensou – e muito – os deslizes.
Me lembro como se fosse hoje quando eu e meu primo Toninho (a gente morava junto com na casa da vó e do vô) acordávamos mais cedo do que de costume e corríamos para o quarto do vô Tonho – era como todos o chamavam – que estava sempre com a coberta enrolada no corpo e na cabeça, deixando aparecer somente o rosto. Eu deitava de um lado, o Toninho de outro, e o vô contava história pra gente.
Não me lembro de quase nenhuma, só daquela que o diabinho queria passar no meio da mulecada, mas não conseguia. Também não lembro direito, mas quando o diabinho teve a idéia infalível de se transformar em um cavalo, os meninos enfiaram um galho de árvore no c... do cavalo e ainda galoparam. E a gente ria um monte...
Lembro também de quando o vô, que era taxista, chegava de tardezinha com o Corcel II. Era sagrada a voltinha de carro comigo e com o Toninho. Às vezes ele até deixada a gente guiar o carro. Outra coisa que me lembro é de quando tive que me mudar para um bairro mais longe com minha mãe e meu pai. Na casa nova, eu acordava e esperava o vô passar por lá para pegar a gente. Mal costume que ele dava...
E, por falar em casa nova, nos dois cômodos que meu pai conseguiu construir e aumentar a casinha tem as mãos do meu vô. Literalmente. Ele trabalhava no táxi e, nos finais de semana, lá ia ele assentar tijolo junto com o genro. Me lembro também de quando a gente ia pra Uraí, na casa dos parentes, de carro. Até hoje, não há outro motorista que me encoraje a dormir no carro. Nem meu pai.
Ah, e já ia me esquecendo. Meu primeiro computador foi ele quem deu, já doente, como o dinheiro da aposentadoria. É esse mesmo, madrinha, o que o Regi usa hoje para fazer as músicas.
Mas acho que ele se foi com sensação de dever cumprido. Viu todos filhos crescerem, casarem e vencerem na vida. Conheceu todos os netos. Viu até o pentacampeonato (e olha que ele nasceu no ano da primeira Copa). Só não me viu entrar na faculdade, mas isso, Deus já estava encaminhando, pois entrei exatamente um mês depois, assim como o Toninho, dois anos depois.
Hoje, meu vô estaria fazendo 78 anos de idade, mas nem precisou. A festa hoje é no céu, onde ele está agora. E o que o deixaria mais feliz no dia do seu aniversário é ver sua família na terra se dando bem e vivendo em paz.
Lá em casa, o dia dos pais é hoje, dia 12 de agosto.
2 comentários:
Danilo!
que lindoo o q vc escreveu sobr seu avô!
Amei!
Bjo Peixinho!
Ah! O seu Antônio do Taxi, impossível esquecer!
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